Para muitos asiáticos, o aumento da xenofobia e o aumento dos crimes de ódio em 2020, e agora em 2021, adicionaram estresse e trauma adicionais às suas vidas diárias. Em uma história agora muito familiar, Chanhee Choi, uma estudante sul-coreana da Universidade de Washington, foi atacada no centro de Seattle por um agressor racista, reclamando dos chineses e do coronavírus. Depois, ela decidiu fazer algo que só ela poderia ter feito para aumentar a conscientização sobre o problema.
Ela decidiu fazer disso um jogo.
“Foi no início da pandemia, em 2020”, disse Choi. “Eu estava andando pela rua no centro de Seattle. No momento, eu tinha acabado de voltar de uma viagem para casa para ver minha família. Lá todo mundo usava máscara, mas aqui ninguém usava. Eu era o único usando máscara porque era da Coréia do Sul, então estava preocupado em estar com outras pessoas, se fosse possível pegar coronavírus. Eu estava apenas me protegendo, mas não esperava que alguém me julgasse ou tivesse um problema, ou pensasse que usar uma máscara me fazia sentir doente. De repente, um cara começou a gritar comigo como: “Você é chinês? Você trouxe o coronavírus. Ele levantou o punho para o meu rosto. Procurei ajuda e todos se viraram, como se não quisessem me ver. Eu me senti como o único asiático na cidade, embora Seattle tenha tantos. Eu estava lá sozinha, sabendo o que ele estava fazendo comigo. Eu nunca havia sentido esse tipo de medo nos Estados Unidos. Desde que isso aconteceu, não vou mais ao centro sozinha. Na época, percebi que sempre que Trump estava no noticiário, ele mencionava o vírus chinês. Mas por que isso aconteceu comigo? Foi minha primeira pergunta. Isso realmente me afetou. Eu queria compartilhar esse tipo de sentimento e tristeza, para que outros possam tentar entender a experiência que tive.
Foi então que Choi decidiu usar suas habilidades em artes digitais e mídias experimentais, sua formação, para incorporar suas experiências em um jogo: “Sou um artista transdisciplinar. Eu estava fazendo animações em 3D e também videogames”, disse Choi. “Aprendi muito, por exemplo, sobre como funcionam os sensores cerebrais e a mecatrônica, para envolvê-los em um mundo digital. Então, sim, foi aí que tive a ideia de fazer o Pandemic, usando Unity e Maya 3D. »
Para começar, Choi criou um avatar 3D da molécula Covid-19 com a qual os jogadores são forçados a jogar, para representar o racismo desumano de equiparar os asiáticos a um vírus. Através de vários níveis, a paisagem – e os inimigos – tornam-se cada vez mais agressivos e perturbadores. Algumas dessas cenas até contêm telas de TV que mostram aos jogadores relatos de crimes de ódio reais. Para dar aos jogadores alguma margem de manobra contra a forma como os inimigos os atacam, Choi oferece alguns itens divertidos e familiares para lutar no início do jogo.
“O personagem principal é uma molécula viral explorando o mundo. Algumas pessoas tentam atacá-lo”, explicou Choi. “Criei algumas funções para o jogador, para que ele colete papel higiênico e desinfetante para as mãos para jogar nos atacantes. Eu sei que é um pouco bobo, mas lembre-se: o papel higiênico era como ouro no começo. “
Quando chegou a hora de criar os inimigos no jogo e os obstáculos que o jogador encontraria, Choi se inspirou no mundo real, incluindo exemplos perturbadores que ela viu nas redes sociais.
“Minha inspiração para criar os inimigos veio dos desenhos animados de um artista racista da Holanda”, disse ela. “Ele fez essas animações em loop de uma chinesa usando um biquíni feito de moléculas corona, comendo muita comida estragada e fodendo um morcego em francês. Isso a fazia parecer um símbolo sexual estúpido e impuro. Este vídeo se tornou viral em 2020 e, de alguma forma, ninguém ficou bravo com isso. Eu pensei, o que está acontecendo?
Choi sugeriu que as pessoas que assistiam ao vídeo, se não entendessem e já concordassem com os estereótipos, poderiam não ter entendido o quão perigoso e xenófobo ele realmente era. Então ela decidiu incluir o vídeo – ou pelo menos elementos dele – em seu jogo: “Eu modelo uma imagem que se parece com este desenho animado em formato 3D. Isso é para interpretar uma única amostra de mensagens de fanatismo compartilhadas nas mídias sociais. O TikTok tem mais desenhos como este, que muitos meninos e meninas podem ver. Quando mostro essas coisas para os outros, digo: “Ei, você não acha que isso está errado?” Eles estão realmente dizendo: “O que há de errado?” Não é engraçado. Pode ser perigoso, um estereótipo dessa raça que espalha doenças e come um morcego. Quem esse tipo de imagem afetará? »
Para desabafar sua frustração e também refletir a recepção acrítica que memes como esse recebem nas redes sociais, ela adicionou um nível no jogo cheio de zumbis, movidos por nada além de ressentimento e ódio da mente.
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“O padrão zumbi realmente corresponde aos tweets Covid de Trump”, disse Choi. “Existe algum tipo de sistema de som, então quando você chega perto você ouve. O som é uma citação aleatória de postagens genuínas de mídia social. Uma mulher grita: “Você deve voltar para o seu país.” É um discurso viral constante. E os zumbis continuam te seguindo, então você tem que tentar fugir. Eles continuam se reunindo – você pode ver que em um ponto há 30 ou 40 deles, e eles continuam rastejando em sua direção. “
“Você tem que jogar o papel higiênico neles para fazê-los desaparecer”, diz Choi com um sorriso.
De acordo com o Stop AAPI Hate, as mulheres têm duas vezes mais chances de serem agredidas do que os homens, muitas vezes ligadas a estereótipos de gênero de promiscuidade e subserviência, como vimos nos tiroteios de Atlanta em março de 2021 Essa violência contra as mulheres e o aumento do risco de violência futura, são fatores determinantes que impulsionam Choi enquanto ela trabalha em Pandemic.
Discutindo o tiroteio em Atlanta, Choi diz que “o consenso geral é literalmente que a mulher seja meio cooperativa: exótica, um objeto. Há um exemplo de como esses crimes são sérios, como quando a polícia acabou de dizer: “Ele teve um dia ruim”. Todo mundo está tendo um dia ruim. Eu realmente não entendo porque aqueles que cometem os crimes são protegidos como mártires, como se merecêssemos morrer. Percebi que tinha que continuar tentando falar. É normal ser agressivo ou tentar fazer sua voz ser ouvida. Acho que é a única solução. »
Pandemic está programado para ser lançado neste verão no site de Chanhee Choi. Ele estará disponível para download gratuito no PC.
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